Berçário das ações de reflorestamento, o viveiro do Instituto Terra já produziu cerca de quatro milhões de mudas de espécies florestais da Mata Atlântica. Uma produção que está ajudando a recuperar mais de 7,5 milhões de metros quadrados de áreas degradadas no Vale do Rio Doce.
No entanto, mais que cobrir de verde um território antes dominado por paisagens degradadas, o trabalho desenvolvido diariamente na RPPN Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), agrega um componente de grande valor ambiental, que muitas vezes não recebe a devida atenção nos projetos de reflorestamento: a conservação da biodiversidade florestal desse importante bioma que é a Mata Atlântica.
“Todo o processo envolvido na preparação das mudas visa à conservação dessa biodiversidade, e não apenas entre espécies diferentes, mas principalmente dentro de cada uma das espécies, o que é mais difícil”, observa o analista ambiental do Instituto Terra, Jaeder Lopes Vieira. Por isso, desde a coleta das sementes, que é feita dentro de um raio de 200 quilômetros de distância da RPPN, até o manejo dentro do viveiro, existe sempre a preocupação em cultivar as variedades possíveis e assim ter condições de, ao reflorestar, poder reconstruir as complexas interações ecológicas do bioma.
Atualmente, o viveiro do Instituto Terra tem capacidade para produzir um milhão de mudas por ano e trabalha com uma diversidade anual de cerca de 100 espécies nativas de Mata Atlântica. Segundo o analista ambiental do Instituto Terra, restaurar os processos ecológicos em áreas degradadas exige um conhecimento mais amplo das interações entre as várias espécies e da diversidade genética característica da Mata Atlântica.
“Restaurar uma floresta vai além de promover o plantio aleatório de árvores. É necessário seguir critérios ecológicos na escolha das espécies, na sua combinação e disposição no solo. Seguir esses critérios significa garantir que o ambiente reflorestado vai poder cumprir de fato sua função, e que a área reflorestada não retornará à condição de degradada, se for devidamente protegida ou mesmo manejada”.
A conservação da Mata Atlântica é uma das tarefas urgentes para o equilíbrio ambiental também no Brasil. O bioma tem papel fundamental na mitigação das mudanças do clima e na regulação dos sistemas de chuva. Com grande biodiversidade, sua restauração pode ajudar na promoção do desenvolvimento sustentável e aumento da produtividade agrícola, entre muitos outros benefícios.
Portal Semear – Para ajudar a ampliar as ações de recuperação florestal, o Instituto Terra compartilha conhecimento. A partir do Laboratório de Sementes que funciona na RPPN Fazenda Bulcão, está reunindo o conhecimento científico e empírico adquirido no desenvolvimento das mudas das várias espécies. E como forma de tornar esse conhecimento acessível, lançou o Portal Semear, tornando públicas as informações básicas sobre questões fundamentais na produção de mudas de Mata Atlântica e seu respectivo plantio. Rotineiramente atualizado, o Portal Semear se constitui em uma fonte de informações bibliográficas, permitindo divulgar as práticas do Instituto Terra desenvolvidas no viveiro e no Laboratório de Sementes ao longo de anos. Com imagens (fotos) das diferentes fases da produção de mudas, o portal científico é de fácil consulta, até mesmo para leigos, e está aberto a contribuições de outros viveiros. Confira em www.portalsemear.org.
A importância da Mata Atlântica e sua biodiversidade
A Mata Atlântica tem importância vital para cerca de 120 milhões de pessoas, mais de 70% da população brasileira. Tanto nas cidades como nas áreas rurais, é ela que ajuda a manter o equilíbrio ambiental ao regular o fluxo dos mananciais de água, proteger nascentes, regular o clima, a temperatura, a umidade, as chuvas, assegurando assim a fertilidade do solo e a proteção de escarpas e encostas de morros. Rios e lagos que cortam esse bioma formam uma rede de bacias hidrográficas de grande importância – sete das nove maiores bacias hidrográficas do Brasil estão em regiões de Mata Atlântica.
Biodiversidade é a quantidade de espécies de organismos vivos existentes nos ecossistemas da Terra. Se cada espécie tem sua função no planeta e sua posição na cadeia alimentar, o desaparecimento de uma espécie quebra esse equilíbrio, com conseqüências em vários serviços ambientais, como na polinização, controle de pragas e vetores de doenças, ciclo de nutrientes (água, nitrogênio, carbono), contenção de encostas, equilíbrio da temperatura e umidade do ar, entre outros. O principal impacto da perda da biodiversidade é a extinção das espécies, que são irrecuperáveis. A interferência desordenada do homem no meio ambiente é a grande causadora da perda da biodiversidade mundial. Plantas e animais têm sido exterminados de maneira muito rápida pela ação humana. A taxa de extermínio de espécies ocasionada pelo homem é 50 a 100 vezes superior aos índices de extinção por causa natural. Mesmo sendo difícil determinar o valor econômico dos benefícios da biodiversidade, calcula-se que esse número ultrapasse US$ 30 trilhões anuais, segundo estudo realizado em 16 grandes ecossistemas. Apenas os produtos derivados de plantas, animais e microorganismos movimentam cerca de US$ 200 bilhões por ano. Essas substâncias são utilizadas na pesquisa médica, alimentação, vestuário e agricultura. (Com informações do Projeto Tom da Mata e da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica).